Por Pr. Marcos Granconato

A terceira e última lista de dons que aparece no Novo Testamento encontra-se em Efésios 4.11. Na verdade, os dons ali mencionados designam funções dadas a algumas pessoas da igreja com vistas ao preparo dos crentes para o serviço de Deus, a fim de que o corpo de Cristo seja edificado e seus membros não se tornem semelhantes a meninos facilmente induzidos, “levados ao redor por qualquer vento de doutrina” (Ef 4.12-14).
A lista é pequena e se encontra em Efésios 4.11:

Apóstolo: Num sentido geral, o apóstolo era simplesmente um missionário pioneiro. Nesse sentido, Barnabé, por exemplo, foi chamado de apóstolo (At 14.14). Num sentido técnico, porém, esse termo tinha abrangência bastante limitada, designando apenas aqueles que viram o Senhor ressurreto e foram investidos diretamente por ele na função apostólica (At 1.21,22; 1Co 9.1; Gl 1.1), recebendo também, da parte de Deus, revelações doutrinárias especiais que servem como fundamento doutrinário para a igreja de todas as épocas (Ef 2.20; 3.4,5). Nesse sentido restrito, os apóstolos só existiram no século 1 e foram apenas doze (Ap 21.14). As marcas distintivas desse pequeno grupo eram as seguintes:

1. Eles eram missionários pioneiros (Rm 15.20; 2Co 10.13-16).

2. Eles eram testemunhas oculares da ressurreição (1Co 9.1; 15.8).

3. Eles não se autoinvestiam na função apostólica (Rm 1.5; 2Co 11.13; Ap 2.2).

4. Eles realizavam prodígios milagrosos (2Co 12.12).

5. Eles não entravam nessa função através de outros homens, mas somente por ordem direta de Cristo (Gl 1.1,11,12). A exceção no caso de Matias (At 1.21-26) ocorreu provavelmente por causa do caráter provisório de seu papel como décimo segundo apóstolo.

6. Eles eram canais de revelação doutrinária inédita (1Co 15.3; Ef 3.4-6).

7. Eles eram colocados por Deus numa posição de desprezo, miséria e sofrimento (1Co 4.9-13).

Se alguém não apresentasse essas marcas, poderia ser chamado de apóstolo no sentido não técnico, isto é, poderia ser, no máximo, um missionário pioneiro. Para ser, contudo, um apóstolo no sentido estrito, cada uma dessas marcas devia ser real em sua vida.

É importante destacar que o apóstolo, no sentido estrito, já nos tempos do Novo Testamento foi perdendo sua posição de liderança absoluta na igreja, cedendo lugar aos bispos ou pastores. Isso pode ser visto claramente no modo como a forte liderança de Pedro é nublada pelo decisivo governo de Tiago, que não fazia parte dos Doze. De fato, Pedro mostra até temor diante de uma comitiva que Tiago enviou a Antioquia (Gl 2.11-13) e, no Concílio de Jerusalém, a palavra final foi de Tiago e não de Pedro ou mesmo de Paulo (At 15.13ss). Isso dá indícios de uma mudança de primazia já na igreja primitiva que, aos poucos, foi substituindo a liderança apostólica pela pastoral. Afinal, com a morte dos Doze, já no século 1, o cargo de apóstolo, no sentido estrito, desapareceu de maneira definitiva.

Profeta: Veja-se nos artigos anteriores as considerações relativas ao dom de profecia.

Evangelista: É alguém que proclama as Boas Novas. Nos tempos do Novo Testamento designava especialmente missionários itinerantes que iam de cidade em cidade anunciando a mensagem de Cristo (At 8.5,26,40; 3Jo 1.7), embora o termo também seja aplicado a indivíduos que tinham um ministério fixo num determinado lugar (2Tm 4.5). Não há no Novo Testamento nenhum indício do fim do dom de evangelista.

Pastor mestre: Essa expressão pode designar duas funções distintas (pastores e mestres) ou somente a função do ministro que se ocupa de pastorear e ensinar a igreja. O artigo definido que consta do texto grego aponta para a segunda opção, realçando a dupla responsabilidade que recai sobre os pastores, a saber, o cuidado e a instrução do povo de Deus (At 20.28; 1Pe 5.2,3). O dom de pastor e mestre não apresenta nenhum sinal de ter pertencido somente aos tempos apostólicos, sendo seu exercício real e importante na igreja de todos os tempos.

Seja qual for o dom que um crente tenha recebido do Senhor, isso se encaixará em uma de duas categorias: ou será um dom de palavra ou um dom de serviço (1Pe 4.10,11). Se o dom for de palavra, então o crente deverá exercê-lo em harmonia com o que o Senhor revelou, jamais transmitindo à igreja apenas noções ou impressões pessoais. Se o dom for de serviço, o crente deverá realizá-lo não a partir de sua disposição individual, sempre oscilante, mas na força que Deus supre. Em todo caso, o uso dos dons do Espírito Santo deve ser feito de tal modo que a igreja toda seja servida (1Pe 4.10) e, no final, Deus, por meio de Jesus Cristo, seja glorificado (1Pe 4.11).

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