Esse semana eu estava lendo Hebreus 3 quando me deparei com o seguinte texto:

Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz,
Não endureçais os vossos corações, Como na provocação, no dia da tentação no deserto.
Onde vossos pais me tentaram, me provaram, E viram por quarenta anos as minhas obras.
Por isso me indignei contra esta geração, E disse: Estes sempre erram em seu coração, E não conheceram os meus caminhos.
Assim jurei na minha ira Que não entrarão no meu repouso.
Hebreus 3:7-11

Parei por um instante, refleti um pouco e imediatamente peguei a minha Tradução do Novo Mundo das Sagradas Escrituras (versão oficial da Bíblia das testemunhas de Jeová) e procurei o mesmo texto nesse livro, onde lemos o seguinte:

Por esta razão, como diz o espírito santo: “Hoje, se escutardes a sua própria voz, não endureçais os vossos corações como na ocasião em que se causou ira amarga, como no dia em que se fez a prova no ermo, em que os vossos antepassados me submeteram a uma prova, com uma provação, e, no entanto, tinham visto as minhas obras por quarenta anos. Por esta razão me aborreci desta geração e disse: ‘Eles sempre se perdem nos seus corações, e eles mesmos não chegaram a conhecer os meus caminhos.’ De modo que jurei na minha ira: ‘Não entrarão no meu descanso.’”

Esse texto sozinho é capaz de derrubar duas das mais significativas (e perigosas) doutrinas da Torre de Vigia: que o Espírito Santo não é uma pessoa e muito menos é Deus.
O texto começa com o Espírito Santo falando, fazendo uma declaração. Se o Espírito Santo não fosse uma pessoa, ele jamais poderia falar nada, já que objetos não falam. Uma testemunha de Jeová poderia levantar a objeção que isso é pura figura de linguagem, como alguém que diz “pare em nome da lei”, ou qualquer coisa do tipo. Mas é importante lembrar como uma testemunha de Jeová chega a conclusão que o Espírito Santo não é uma pessoa. Eles não chegam a essa conclusão pela leitura das Escrituras, mas pelo seguinte raciocínio: como o Espírito Santo entrou nos apóstolos no Pentecoste e também pode operar em vários lugares ao mesmo tempo, ele jamais poderia ser uma pessoa (particularmente eu acho as doutrinas da Torre de Vigia muito materialista, mas isso fica pra outro post). Após esse raciocínio e após isso ter sido estabelecido, então, a testemunha de Jeová passa à caça de textos nas Escrituras que “comprovam” esse raciocínio. Muitos outros textos mostram a pessoalidade do Espírito Santo (Rom 8:27, 15:10; Atos 8:29, 11:12, 21:11; 1 Tim 4:1 e tantos outros) e esse, Hebreus 3, tem dupla função.
A segunda doutrina destruída por esse texto é aquela que diz que o Espírito Santo não é Deus. Aqui, o Espírito Santo fala como Deus. Foi contra Deus que o povo se rebelou no deserto e foi Deus quem decretou que eles vagariam por 40 anos antes de entrar na Terra Prometida. Como poderia o Espírito Santo dizer que ele foi submetido à prova e que ele havia operado obras e que ele se aborreceu e que os caminhos que o povo não chegou a conhecer foram os deles e que ele ficou irado, se não fosse uma pessoa e se essa pessoa não fosse Deus? Leia esse texto e compare com Números 14, especialmente do versículo 28 em diante. E note também que a palavra para Senhor nesse texto é o tetragrama, que as testemunha de Jeová afirmam ser o nome de Deus (Jeová).
Assim, um único texto é capaz de destruir duas doutrinas de uma única vez.
Eu tenho certeza que se eu abrisse a minha Watchtower Library eu encontraria alguma explicação esdrúxula para Hebreus 3 que poderia convencer aqueles dentro da seita, mas dificilmente resistiria a uma análise mais profunda.
Mas fiquem a vontade para tentar.