Richard Dawkins foi recentemente desafiado a debater William Lane Craig. Ele se recusou. Craig, de acordo com ele, é um “deplorável apologista de genocídio” com quem ele não dividiria uma plataforma. O genocídio em questão é aquele dos cananeus no livro de Deuteronômio no Velho Testamento (veja o link em inglês).

Uma das frases mais famosas de Richard no livro “Deus, um delírio” sobre esse assunto é:
O Deus do Antigo Testamento é talvez o personagem mais desagradável da ficção: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo.

Um dos grandes problemas que muitas pessoas tem com Deus como detalhado na Bíblia, como Richard tão claramente demonstrou acima, é o de Seu julgamento contra as nações como dos cananeus. Só é necessário ler a história bíblica para ver Deus ordenando a matança de homens, mulheres e crianças cananéias. Nem mesmo os animais foram poupados. O que fazemos com isso? Deus é um monstro moral?


Paul Copan tentou responder a esse desafio em seu livro “Is God a Moral Monster? Making Sense of the Old Testament God” (Deus é um monstro moral? Fazendo sentido do Deus do Velho Testamento). A sua resposta para a acusação que Deus comandou o genocídio dos cananeus é que esse não foi o genocídio que parece ter sido se realmente lermos o texto pelo que é; o texto é uma hipérbole e um exagero daquilo que realmente aconteceu; que esses eram mais ataques desabilitantes e não as conquistas militares do tipo “não deixe sobreviventes” que se pode concluir pela leitura do texto. As passagens sobre mulheres e crianças são apenas artifícios de linguagem sendo usados como uma metáfora inativadora de certas estruturas para que a influência dos cananeus fosse desabilitada. Para uma explicação mais detalhada você pode ouvir essa entrevista (terceira hora, em inglês) com Greg Koukl em seu programa de rádio em STR ou no blog. Ou você pode comprar seu livro.

Enquanto a explicação de Paul Copan sobre os assuntos como escravidão, bigamia, sacrifício de crianças e tratamento de mulheres no Velho Testamento fazem sentido pra mim, eu acredito que Clay Jones chega à correta conclusão sobre o assunto do “genocídio divino” dos cananeus. Ele afirma eu seu tratado, “Nós nãoodiamos o pecado, por isso não entendemos os cananeus”, que a interpretação pelo o que está escrito no texto é a interpretação correta. Clay também apareceu no programa de rádio de Greg Koukl em uma entrevista que pode ser encontrada aqui (terceira hora, em inglês) que é de onde eu consegui a maioria das respostas para o resto da postagem.

A primeira coisa que precisa ser examinada é a cultura e o comportamento dos Cananeus para ver se poderia existir alguma justificativa para sua obliteração como descrita no Velho Testamento. O arqueologista William Allbright fala sobre um antigo poema cananeu onde o deus cananeu Baal estupra sua irmã enquanto ela está na forma de uma bezerra 77 ou mesmo 88 vezes. Nós temos aqui estupro, incesto e bestialidade no mesmo ato. Baal também faz sexo com sua mãe e sua filha. Se esse é o ser que os cananeus adoram, se esse é o Deus que eles veneram, então, de acordo com Jones, certamente é isso que eles também praticam. E esses atos são confirmados por estudos mais profundos da cultura cananéia. Deus proibiu essas práticas em Levítico e esses pecados são punidos quando, tanto os cananeus quanto os israelitas os cometem. E essa punição era dura. Sodoma e Gomorra são exemplos de cidades cananéias que foram julgadas por Deus com uma boa justificação moral.

Então, como Clay Jones responde as passagens da completa destruição dos cananeus no Velho Testamento? Clay começa fazendo uma observação sobre a nossa própria cultura. Nós parecemos ter sido inoculados pelo pecado. A maioria das pessoas parecem não se importar mais em relação ao pecado. Nossa cultura nem mesmo reconhece tais coisas como pecado, quanto mais entender o que o termo “pecado” realmente significa. Nós nos tornamos como os cananeus em nossa própria cultura a tal ponto que, como Clay afirma, “estudar tais coisas ao longo dos anos me levou a pensar que os cananeus poderiam se levantar no Dia do Julgamento e condenar essa geração”.

Animais
Por que matar animais? Você não vai querer ficar perto de animais usados para ter relação sexual com pessoas. No artigo de Clay ele dá exemplo de uma gorila atacando sexualmente um psicólogo.

Mulheres
Se você quer erradicar essas práticas da cultura, então por que você vai deixar vivas as mulheres que eram tão culpadas e igualmente perigosas quanto homens na participação dessas práticas?

Crianças
Sim, as crianças também. Primeiramente, qual idade você começa a separar as crianças dos adultos? 18? 12? Clay nos fala das crianças que eles adotaram porque ele e sua esposa não podiam ter filhos. Eles aprenderam que crianças que vem para a sua casa com idade de 4 anos estavam trazendo sua cultura com elas. Agora, e se você tivesse matado os pais dela? Como seria a rebelião na adolescência para essas crianças que foram preservadas? Certamente elas foram expostas a culturas altamente sexualizadas e muito provavelmente foram molestadas naquela época.

Então, como você se livra dessa cultura no intuito de prevenir que ela afete os israelitas adversamente? Se você quer erradicar a pecaminosidade dos cananeus, de que outra forma você pode fazê-lo?

Mas espere, eu ouço você dizer, a Bíblia fala da continuidade da presença dos cananeus na região depois que esse “genocídio divino” ocorreu. Como Clay responde isso? Clay nos leva a observar os textos que falam do “genocídio divino” e mostra que a ordenança de Deus era apenas para uma região específica. Ainda havia presença cananéia fora da região onde os israelitas deveriam habitar e por isso que ainda estava em vigor a ordem para não tomar esposas fora da cultura israelita. Mas como lemos mais adiante no texto, os gostos dos reis Davi e Salomão não permitiram que eles respeitassem essas leis perfeitamente (tomando esposas de fora da comunidade israelita) e portanto a cultura cananéia foi reintroduzida dentro da cultura de Israel e a corrompeu ao ponto que Deus lidou de forma dura com os israelitas através dos assírios e babilônios.

Concluindo, eu acho que podemos aceitar o texto como ele é. A questão que permanece é o que você pensa sobre Deus comandando tal coisa? Tem Deus o direito de fazer o que Ele quer com a Sua criação? Se você tem algum problema com o julgamento seletivo dos cananeus, então como você se sente em relação à completa destruição que Deus trouxe durante o Dilúvio? E como você se sente em relação à iminente destruição de tudo no Armagedom?