Dr. Michael Kruger
Professor associado do Novo Testamento
Reformed Theological Seminary


No final do livro de Bart Ehrman, “Quem Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi?” ele faz algo fantástico e inesperado. Após gastar centenas de páginas nos dizendo porque a Bíblia não pode ser confiada como um guia para a vida cristã, como guia para normas morais ou como um guia para qualquer coisa, Ehrman faz uma meia volta e realmente oferece uma inesperada ladainha de afirmações morais.

De fato, por todo o livro, Ehrman se opõe moralmente ao Novo Testamento – se opõe à doutrina do inferno, como ela é “moralmente repreensível”; se opõe a visão de Paulo sobre as mulheres, que ele considera moralmente ofensivo; opo se opõe odo tipo de doutrina das Escrituras, que ele considera moralmente errada. Por todo o livro, Ehrman muitas vezes faz declarações bastante dogmáticas sobre a forma como Deus deveria ser, sobre como a salvação deveria funcionar, sobre como a Bíblia deveria parecer. O mais marcante é que, conforme o leitor chega ao final do “Quem Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi?”, uma pergunta começa em nossa mente, e é simplesmente essa: “como Ehrman sabe e tem acesso a esses padrões morais que ele está afirmando?” “Como ele sabe que a doutrina bíblica do inferno é moralmente errada?” “Como ele sabe que Deus deve agir de um jeito e não de outro?” “Como ele sabe que a visão de Paulo sobre as mulheres é moralmente certa ou errada?” Isso implica que Bart Ehrman tem acesso a algum padrão moral no universo, alguma norma moral pelo qual ele pode julgar essas questões. Mas a questão aqui é a seguinte “de onde isso vem no universo de Ehrman?” Ele nunca se preocupa em nos dizer. Tudo o que ele diz é que ele é um agnóstico feliz, não muito certo sobre muitas coisas. Mas não estar certo sobre muitas coisas torna ainda mais incrível dar meia volta e contrabandear todo o tipo de declarações morais na surdina, simplesmente e precisamente depois de dizer que aos cristãos não é permitido fazer tais declarações com base na Bíblia.

O que é marcante nisso tudo é que agora você tem uma pessoa fazendo uma declaração moral sobre dogmatismo com base em sua própria autoridade. Um pessoa pode não gostar que os cristãos façam declarações que são morais em sua natureza, mas pelo menos é internamente coerente o porque os cristão fazem isso. Nós na verdade temos um livro que afirmamos ser de Deus, e dado por Deus. Se formos criar normas morais ou termos absolutos morais, então faz sentido que você os receba do Deus que criou o universo. Mas dizer que isso não é uma opção, e então dar meia volta e fazer declarações morais baseadas na autoridade particular de uma pessoa é realmente uma coisa bizarra de se ver. Eu acho que esse é o problema com “Quem Jesus Foi? Quem Jesus Não Foi?”. Ehrman usa seu próprio livro para destruir a própria fundação para a moralidade, ou seja a Bíblia, mas quer continuar com a moralidade de qualquer maneira. Mas você não pode cuspir no prato que está comendo. Você tem que ir em uma direção ou em outra. Ou existem normas morais e você tem de onde tirá-las ou não existem tais normas de forma alguma.

Mas e se não existirem normas morais no final das contas? Onde isso deixaria o livro de Ehrman? É um enigma porque no final de seu livro, Ehrman exorta seus leitores a trabalhar pela paz, pela justiça e a fazer todas essas coisas que supostamente são boas no mundo. Mas se não existem normas morais e as pessoas fazem aquilo que parece certo para elas, porque no final das contas fazer declarações morais ao final do livro? O que você encontra aqui é um pouco de “esquizofrenia intelectual”. De um lado, Ehrman quer ter as normas morais porque ele percebeu que você não pode ter uma visão de mundo coerente sem elas, mas pelo outro lado, ele passa todo o tempo em seu livro tentando miná-las, mostrando como a Bíblia não pode prover tais normas. E ele não oferece nenhuma capacidade para prover tais normas. Isso apresenta para mim um livro filosoficamente incoerente. Apesar de parecer bom clamar por justiça, no final do dia Ehrman não tem fundamentos para tais declarações.