Cristianismo e outras religiões antigas por Stephen J. Bedard

(Áudio em MP3 aqui em breve)

Por que o cristianismo deve ser visto como verdade? O desafio diz que havia outros movimentos religiosos no primeiro século no Mediterrâneo que eram tão populares quanto. Por que o cristianismo teria uma melhor afirmação sobre a verdade do que alguns dos cultos de mistérios do mundo greco-romano? Alguns autores chegaram a sugerir que a história de Jesus foi baseada nestes cultos de mistérios e que os Evangelhos simplesmente colocaram uma roupagem judaica em um mito universal encontrado dentro dos cultos de mistérios. Há muitas maneiras de responder a essa hipótese de Jesus como um mito, mas podemos olhar para esses movimentos religiosos a partir de uma perspectiva histórica, e concluir que o cristianismo tem uma melhor afirmação sobre a verdade.


Cultos de mistérios
Havia inúmeros cultos de mistérios no mundo greco-romano, mas os mais frequentemente comparados com o cristianismo são relacionados ao culto de Mitra, Dionísio e de Ísis e Osíris. Tem sido discutido em outros lugares que os supostos paralelos com o Cristianismo ou são exagerados ou simplesmente falsos.1, No entanto, existem outras maneiras de diferenciar estas seitas do cristianismo.

O Mitraísmo era um movimento religioso que alguns alegam que poderia ter suplantado o Cristianismo como a religião dominante do Império Romano. As origens do Mitraísmo estão envoltas em mistério. Parece haver alguma ligação com o hinduísmo e religião persa, mas no momento em que o mitraísmo se tornou uma religião popular entre os romanos havia sido transformada em algo completamente novo. O acontecimento marcante no mitraísmo foi a morte do touro por Mitra. No entanto, este não foi um acontecimento histórico datável. A morte do touro teve lugar no passado primordial. Na verdade todos os acontecimentos da vida de Mitra, incluindo sua ascensão ao céu não foi entendido como tendo importância histórica, mas sim um valor ritualístico.

O ciclo de Osíris e Ísis, que inclui o mito de Hórus, proveu a história para uma seita religiosa muito popular. Enquanto o mito atual é bastante diferente do Evangelho, há outra diferença. A história de Osíris, Ísis e Hórus tem lugar no passado mítico. Não há maneira de colocar essas histórias em um contexto histórico. Enquanto os mitos podem ter sido valorizados pelos antigos, eles não foram capazes de descrever os eventos de uma forma histórica.

O culto a Dionísio também é um movimento que é muitas vezes comparado ao cristianismo. O melhor relato do mito de Dionísio é encontrado na peça de Eurípedes As Bacantes. A história descreve a raiva de Dionísio por ter sido recusado adoração e a punição que ele inflige. Esta peça foi apresentada pela primeira vez em 405 a.C., mas descreve eventos que, supostamente, tem lugar cerca de 2000 a.C., de acordo com Heródoto.2 Diferentemente da maioria dos cultos, ele é colocado em um contexto específico, embora ainda seja uma idade onde as figuras lendárias são criadas como fundadores de cidades importantes.

Cristianismo
O cristianismo é diferente das religiões e cultos pagãos contemporâneos de várias maneiras, mas uma das mais importantes é que é uma religião histórica. Através de uma religião histórica, quero dizer que é um movimento de fé que é fundamentada em fatos históricos e não no passado mítico e que as histórias foram registradas próximas aos eventos reais. Lucas, no início do seu Evangelho, deixa claro que ele estava registrando acontecimentos reais e que os acontecimentos que tiveram lugar tinham um contexto histórico específico.3 Isto é importante porque o cristianismo não é simplesmente baseado em filosofia, em uma mitologia agradável ou na ética prática, mas é baseada em acontecimentos históricos.

Qual é a evidência histórica para o cristianismo? Nós temos exatamente o que esperaríamos levando-se em consideração a área do Império Romano em que ocorreram os fatos. As reivindicações messiânicas de um judeu de classe baixa e da adoração de seus seguidores teriam conseguido, pouco interesse para a maioria dos cidadãos do Império no primeiro século.4

E os registros dos judeus sobre o ministério de Jesus? Certamente, se Jesus estava pregando e realizando milagres, algumas das testemunhas registraria suas experiências. Há duas questões para se notar. Uma delas é que a taxa de alfabetização era bastante baixa e a maioria dos registros assumiria a forma de tradições orais. Em segundo lugar, o clima da Galiléia e da Judéia era muito úmido para que a maioria dos textos sobrevivessem. A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto é uma exceção que confirmam a regra.

Dito isto, existe alguns indícios judeus para a vida de Jesus. Em seu Testamentum Flavianium, Josefo realmente fala de Jesus. Alegações de que essa passagem é uma falsificação são muito ambiciosas. Sem dúvida, houve alguns acréscimos por cristãos, mas os estudiosos têm sido capazes de restaurar o texto original.5

Mais importante do que Josefo é o testemunho do próprio Novo Testamento. Os Evangelhos são, por vezes, desconsiderados como ficção piedosa, mas de forma injustificada. Evangelhos não canônicos do segundo e terceiro século mostram influência das novelas greco-romana, mas os Evangelhos canônicos são mais próximos do gênero da biografia e história.6 Embora os Evangelhos tenham sido escritos entre trinta e cinqüenta anos depois dos acontecimentos, isto não tira o seu valor. Eles foram baseados em tradição orais mais antigas7 e comparados com os textos a nós disponíveis sobre outras figuras antigas, como Alexandre, o Grande, os Evangelhos estavam relativamente perto aos eventos.8

Mesmo anterior aos Evangelho é o testemunho de Paulo. Paulo escreveu tão cedo quanto 20 anos após os acontecimentos e parece citar tradições ainda mais antigas. As alegações de que Paulo não fala do Jesus histórico são exagerações.9 Em 1 Coríntios 15:1-6, Paulo está tão confiante na fiabilidade histórica do Evangelho que ele apresenta a ressurreição como algo a ser confirmado por testemunhas oculares.

Conclusão
Por que a afirmação que o cristianismo é verdade deve ser levado à sério? Ao contrário de outras religiões antigas e cultos, o cristianismo está firmemente plantado na história. Não existe uma época mitológica ou lendária em que ocorreram os fatos. O Evangelho foi pregado em um tempo e lugar onde as pessoas pudessem confirmar os fatos. O cristianismo não é apenas baseado na fé cega, mas é baseado em confiabilidade histórica.

1 Stanley E. Porter and Stephen J. Bedard, Unmasking the Pagan Christ (Desmascarando o Cristo Pagão) (Toronto: Clements, 2006).
2 Herodotus, Histories Book II 2.145 (Livros de História).
3 Lucas 1:1-5.
4 Existem algumas referências antigas romanas como Suetônio, Tácito e Plínio, o Jovem. Veja Porter and Bedard pp. 129-39.
5 Porter and Bedard, pp. 139-44.
6 Richard A. Burridge, What Are the Gospels?: A Comparison with Graeco-Roman Biography (O que são os Evangelhos? Uma comparação com biografias grego-romanas) (New York: Cambridge University Press, 1995).
7 Richard Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses: The Gospels as Eyewitness Testimony (Jesus e as Testemunhas Oculares: Os evangelhos como testemunhas oculares) (Grand Rapids: Eerdmans, 2006). Bauckham até suegerre que tradições orais de testemunhas individuais foram para no texto.
8 O mais antigo tratado sobre a vida de Alexandre, o Grande (356-323 a. C.) é de Plutarco, que escreveu no segundo século d. C.
9 Stephen J. Bedard, “Paul and the Historical Jesus: A Case Study in First Corinthians,” (Paulo e o Jesus histórico: um estudo de caso em 1 Coríntios) in McMaster Journal of Theology and Ministry 7:9-22 (2006).