A Dicotomia Eutífron por Mariano Grinbank

(Áudio em MP3 aqui em breve)

Cristianismo é verdadeiro, porque separa os chifres do dilema Eutífron.

No Eutífron de Platão, Sócrates propõe um dilema que põe em causa a premissa da ética teísta:
1. É algo bom porque Deus assim o proclama?
2. Ou será que Deus o proclama porque esse algo é bom?

Os pontos do dilema são:
1. É algo bom apenas porque Deus assim o proclama? Nesse caso, a bondade de Deus é arbitrária e poderia trocar bem e mal caprichosamente.
2. Existe algo separado de Deus ao qual Deus adere; Deus tem que agir de acordo com um padrão ético que está fora de si mesmo? Nesse caso, Deus não é todo-suficiente e obedece a um padrão mais elevado.

Vamos avaliar as nossas opções e ver qual conceito melhor fornece uma premissa moral absoluta e imperativa: um ethos.

Natureza:
Todas as afirmações que a ética evolui naturalmente podem ser logicamente desconsideradas – mesmo parecendo como senso comum ou verdadeiro – enquanto podem haver ações que contribuam para assegurar a sobrevivência, já que a natureza não é um agente ético não há imperativo ético natural. Poderíamos alimentar os pobres ou comê-los.

Moralidade Semântica:
A ética pode ser fundamentada imediatamente em ditos humanos, mas não em última análise. Os seres humanos podem fazer afirmações epistêmicas sobre moralidade, mas não fornecem uma premissa ontológica, uma vez que , enquanto esta visão pressupõe algo acima da "Natureza", não existe um imperativo ético objetivo, extrínseco. Assim, os seres humanos podem, sem recorrer a Deus, declarar certas ações como ética ou antiética e mesmo afirmar que são absolutas, mas estas são, em última análise, afirmações infundadas, são semânticas, sem tonalidade moral.
Nós inventamos conceitos auxiliares e úteis para nossa sobrevivência, mas estes não chegam a ser imperativos éticos. Além disso, essa ética é impotente, sendo criada por homens que só podem aplicar justiça se o malfeitor for capturado, sendo justiça restrita. Nesta perspectiva, a ética é baseada na regra da maioria, o mais apto por assim dizer. A justiça na Alemanha nazista diferiu das Forças Aliadas.

Uma nota: vamos admitir que o que esta acima ("Natureza" e "Moralidade Semântica") são válidos e vamos chama-lo de, por razões de economia de palavras, "visão naturalista". Vamos agora colocar o Dilema Eutífron:
1. É algo bom porque um naturalista o proclama sendo bom?
2. Ou será que um naturalista proclama algo como bom porque é bom?

Será que um naturalista determina o que é bom? Nesse caso, o que era antiético ontem, é ético hoje e amanhã pode voltar a ser antiético e, portanto, esta é arbitrária e nos rouba a capacidade de condenar qualquer coisa já que no momento em que condenamos uma ação e declaramos outra virtuosa, elas podem estar mudando, assim como areia movediça.

Ou então os naturalistas estão aderindo a algo fora de si mesmo? Eles estão e isso implica um imperativo ético que implica um direito ético, o que implica uma legislador, administrador e adjudicador ético.

Agora, para as teologias:
Dualismo:
Geralmente, dois deuses coeternos (dois seres separados e distintos), constituído de um Deus "bom" e um "mau". Isso é é verdadeiramente arbitrário já que a bondade subjetiva de um é medida contra o mal subjetivo do outro e vice-versa.

Monoteísmo estrito:
Está em vista um único ser eterno, uma pessoa, perfeitamente unida, de forma alguma dividida. Talvez esse Deus sentisse falta de companheirismo/relacionamento e teve que criar alguém com quem desfrutar o que faltava.

Estando sozinho na eternidade, o relacionamento não é parte da sua natureza, caráter ou ser. Assim, quando este Deus cria seres ele não procura relações pessoais com eles e, portanto, cria arbitrariamente componentes éticos para eles. Esse Deus é caprichoso, pois não está vinculado pela relação ética e uma vez que não é intrínseco à sua natureza, as ações éticas por este Deus não são garantidas.

Panteões, politeísmo, e Henoteísmo:
Estes grupos de deuses são geralmente concebidos como tendo sido criados por um ou dois deuses já existentes. Se os muitos deuses são eternos ou criados por outras pessoas, eles apreciaram as relações uns com os outros. No entanto, sendo seres e pessoas distinta, eles não são famosos pela realização de relações éticas uns com os outros, mas são conhecidos por brigas.
Na visão que muitos deuses foram criados por outros deuses, os deuses antigos de alguma forma estabeleceram uma lei ética que é então externa para os deuses posteriores e é uma lei que esses deuses são subservientes.

Já que eles poderiam desfrutar de relacionamentos com outros seres sobrenaturais, não estavam em geral interessados nos relacionamentos com humanos. Eles consideravam os seres humanos como coisas para se brincar – eles manipulariam nossos destinos ou tomariam a forma humana para fornicar conosco, mas há pouco, ou nada, no caminho de relações éticas.

Panteísmo, panenteísmo:
Essencialmente, essa visão postula que Deus é o criador e a criação. Assim, nesta visão as criações de Deus são, na realidade, extensões de Deus. Portanto, no panteísmo ou panenteísmo ética serve para Deus ditar para Deus como Deus deve tratar Deus. Deus é o diretor, o ator e platéia.

Trinitarianismo:
Na Bíblia, estamos lidando com o monoteísmo trinitário, um ser trino: um Deus, um ser, e ainda, três "pessoas" (sendo que um apresenta características de personalidade) cada um é Deus, cada um é eterno, cada um é distinto e, ainda, cada um é o único Deus. Um ser coeternal, coexistente, coigual, constituído por três "pessoas".

Este Deus não está só na eternidade, não está se relacionando com seres eternos em separado e está em relacionamento com pessoas separadas. Uma vez que cada membro da Trindade é eterno, cada um tem desfrutado relacionamentos eternos. Este Deus não está em falta de relacionamento. Deus desfruta de um relacionamento que é unificado em propósito e diversificado entre as pessoas.

Resolvendo o dilema Eutífron:
Ética são baseadas na natureza do Deus Trino. A natureza de Deus é relacional e benevolente, eterna e livre de conflitos. Deus gosta de relacionamentos e incentiva a sua criação a desfrutar do mesmo tipo de relacionamento. A vida consiste de desfrutar de relações com os seres humanos alicerçado sobre o gozo de um relacionamento eterno com Deus.

Assim, o Deus Trino não adere ao exterior, nem a construções éticas arbitrárias, uma vez que estas são um aspecto de Sua natureza.