Destituindo os Sacerdotes do Cientismo por Bob Perry
(Áuido em MP3 em breve aqui)

O “cético” materialista Michael Shermer recentemente ofereceu o seguinte como uma descrição de seu ateísmo: "Não há nada como um conjunto central de princípios que aderimos ou acreditamos, ou algo parecido ... com um cristão ou um judeu ou qualquer outra coisa. Nós não temos nada disso, porque não há nada. Simplesmente nós não acreditamos".1

A negação de Shermer de qualquer aderência à crença religiosa é instrutiva, tendo em conta as reivindicações amplamente anunciadas que ele e outros fazem sobre a legitimidade da entrada de cristãos no mercado de idéias. A "religião", lembremo-nos, nada mais é do que um modelo pelo qual uma pessoa compreende e responde ao mundo. Todo mundo tem uma. A religião de Shermer é simplesmente regrada por uma crença de que Deus não existe. Mas esta afirmação não lhe permite escapar do fato de que ele mantém uma visão sistemática do mundo. Ele simplesmente tentou construir sua compreensão da ética, da verdade e da realidade absoluta a partir da não-existência de Deus. A questão não é sobre quem tem pontos de vista religiosos. A questão é quais desses pontos melhor correspondem com a realidade.

Reconhecer esta religiosidade materialista não é apenas uma forma inteligente de fazer uma afirmação trivial - não quando fomos treinados para acreditar que o diálogo legítimo começa com a aceitação tácita dos pressupostos naturalistas em qualquer discussão sobre o que realmente importa. Qualquer opinião que questione essa atitude é categoricamente rejeitada por uma questão de opinião pessoal que não precisa ser levada a sério. É somente dentro desse paradigma que os cientistas podem nos oferecer "provas". Nossa cultura ordena cientistas como a fonte de toda sabedoria e autoridade.

Se o naturalismo é verdadeiro, tudo isto faz sentido. Se o mundo físico é tudo o que é real, se cada fenômeno deve ser entendido como uma conseqüência de moléculas em movimento, se causas materialísticas são o único tipo que somos permitidos invocar, é lógico que a ciência – o estudo do mundo natural – é o único jogo explicativo em voga na cidade. Se a ciência detém toda a verdade, a nossa crença na ciência – o cientismo – é a nossa maior esperança.

Mas se a ciência é o único defensor apropriado da visão de mundo naturalista, parece justo perguntar como a ciência pode analisar as coisas que, sob os pressupostos do naturalismo, não são possíveis, mesmo em princípio? Como os sacerdotes do cientismo propõem explicar as realidades não-naturais?

Tomemos por exemplo a declaração tantas vezes repetida de que "a ciência refutou Deus". Esta é uma afirmação estranha para dizer o mínimo. Por um lado, ela deve abordar simultaneamente verdades que se excluem mutuamente como: 1) a ciência é o estudo do universo físico e, 2) nenhum teísta acreditável já afirmou que Deus é parte do universo físico. Esse detalhe parece ter sido perdido pelos sacerdotes do cientismo – especialmente para aqueles que defendem a sua descrença na divindade com uma presunçosa negação com a mão e uma demanda por "provas". Eles insistem que o teísta cristão ofereça evidências físicas aceitáveis para um entidade não-física que o clero científico já rejeitou por mero pressuposto. Não vêem a circularidade em seu raciocínio? Sem ele, toda a estrutura do cientismo colapsa sob o peso de seus próprios critérios para a identificação da verdade.

É descontroladamente irônico que os sacerdotes do cientismo parecem ignorantes do idioma de sua fé. A ciência depende da matemática para fazer a sua defesa. Além disso, essa estrutura matemática tem sido descrita pelos próprios cientistas naturalistas como "uma entidade abstrata, imutável que existe fora do espaço e do tempo", que permite a ordenação e as propriedades invariantes que observamos na natureza. "É algo que beira o misterioso" que possui "uma sensação estranhamente real" por si mesmo e satisfaz "um critério objetivo central da existência."2 Stephen Hawking gostaria de saber onde características como a matemática, e as leis da física e da química poderiam ter sido originadas.3 Mesmo o ateu Bertrand Russell disse certa vez que a matemática possui ambos “a verdade e a suprema beleza."

A matemática é a linguagem da ciência – o vocabulário daqueles que negam a realidade não-física – ainda assim a própria matemática é a combinação de números e de conceitos, os quais nenhum deles é físico, mas ambos são inegavelmente reais.

É através da matemática que os cientistas exercem a metafísica quântica, através da qual tentam escapar à inferência causal clara da cosmologia do Big Bang. Confessam que nosso universo realmente não possui nenhuma causa necessária e que eles sabem disso, porque o grau de outra forma inexplicável do ajuste fino no universo significa que devemos apenas viver entre um número infinito de outros universos. Como o cosmólogo Max Tegmark afirmou, esta idéia "... Parece estranha e pouco plausível, mas parece que vamos ter que viver com ela, porque ela é apoiada por observações astronômicas."4 Evidentemente, o fato de que esses universos alternativos são, por definição, não observáveis nunca é abordado por aqueles que exigem "provas" do teísta cuja "fé cega" é considerada um alvo para o seu escárnio.

Causalidade por agente. Vida da não-vida. Mente da matéria. Realidade objetiva não-material. Cada uma dessas realidades é parte de nossa experiência humana comum, mas cada uma é fundamentalmente incompatível com uma visão naturalista do mundo.

Isso não quer dizer que o empreendimento científico é equivocado. Longe disso. A questão
é que, no teísmo cristão, a ciência é entendida no contexto como o método racional pelo qual nos descobrimos e compreendemos a ordem e a majestade da obra criadora de Deus. Visto desta forma, cada um desses enigmas desaparece dentro de uma visão mais abrangente que a natureza não é uma descrição completa da realidade. Acontece que o poder explicativo do cristianismo ultrapassa a alternativa naturalista.

Isso não diminui a ciência. Simplesmente reconhece que a idolatrização materialista da ciência é um ritual inútil com o objetivo de explicar as realidades que a cosmovisão em si mesmo nega. "Seja paciente", somos informados, "a ciência não consegue explicar essas coisas ainda, mas vai. Basta dar-lhe tempo." Embora destinado a persuadir, esta exortação piedosa serve apenas para confirmar o zelo religioso do materialista.

Os sacerdotes, ao que parece, também se imaginam como profetas.

1 Rrecho da transcrição de 31 de dezembro de 2009 do programa de rádio Hugh Hewitt disponível em: http://www.hughhewitt.com/transcripts.aspx?id=53dc1daa-c9b6-429f-9732-923b01ba19b3
2 Max Tegmark, Parallel Universes (Universos Paralelos). (Scientific American. Maio de 2003), 49.
3 Dean Overman, A Case Against Accident and Self-Organization (Um caso contra acidentes e a auto-organização). (New York, New York: Rowman e Littlefield Publishers, Inc. 1997), 159.
4 Tegmark, 41.