No último domingo fomos visitar nossos irmão da igreja Comunhão em Cristo na zona norte, onde vamos ministrar um curso de evangelismo em Abril. Em breve teremos mais novidades. Foi um tempo muito bom de comunhão com nossos irmãos e é sempre bom conhecer uma igreja que tem o coração voltado para o perdido e desejar alcançar as almas no seu bairro.
Mas algo de interessante aconteceu ao final do culto. E não foi a primeira vez. Nem a segunda. E nem a terceira.
Um pouco antes do final da reunião, o pastor me chamou e pediu para eu conversar com um senhor que tinha entrado na igreja. Ele é um morador de rua e pediu para que eu compartilhasse o evangelho com ele. Interessante que isso já aconteceu comigo várias vezes em algumas igrejas. E eu entendo o porquê. Ora, se você tem alguém na igreja que trabalha com evangelismo, ninguém melhor para evangelizar qualquer pessoa que entrar na igreja.
Evangelismo com moradores de rua não é algo novo para mim. No meu tempo de Jocum, muitas vezes fomos para a rua pregar o evangelho e levar refeições, cobertores e café. A novidade é fazer isso dentro da igreja. E com tanta frequência.
Existe alguma diferença em se evangelizar moradores de rua na rua e na igreja? Ou melhor, existe algum diferença entre evangelizar um morador de rua e qualquer outra pessoa?
O morador de rua possui um problema (para não dizer muitos) que é sempre constante. Ele não tem casa. Ele vive na rua. Ele convive com a violência da rua, o desprezo das pessoas. Pode estar envolvido com drogas, roubo e tantas outras coisas. Devemos levar tudo isso em consideração na hora de evangelizá-lo?
Sim, devemos. Categoricamente. Mas isso não muda a mensagem do evangelho. Isso não muda a nossa abordagem. Então, por que devemos levar todas essas coisas em consideração?
Muito simples, isso muda a nossa sensibilidade e nossa postura em relação à pessoa.
O evangelho é um só. Uma mensagem clara: nós somos pecadores imundos, que merecem nada menos do que a ira de Deus. Mas Deus, em seu imenso amor, enviou Jesus Cristo, seu único filho. Ele viveu uma vida perfeita, foi crucificado e morreu na cruz em nosso lugar. A ira de Deus que deveria cair sobre nós, foi colocada sobre Cristo. Ele morreu. Mas ressuscitou (temos vários artigos no blog sobre isso), venceu a morte e hoje a salvação está disponível para aqueles que se arrependerem de seus pecados e colocarem sua fé em Jesus Cristo como seu único e verdadeiro salvador. Resumidamente, essa é a mensagem. Não muda se a pessoa for morador de rua ou se ela for o presidente da república. Então, o que muda?
Quando estamos falando com um morador de rua é importante manter em mente que essa pessoa muito provavelmente entende bem que é uma pecadora. Ela vive na rua. Muitos já passaram pela cadeia. Elas sabem que não são pessoas boas. Mas mesmo assim, não devemos abrir mão do uso da Lei porque, muitas vezes, essa pessoa não se acha realmente rebelde em relação a Deus. Ela sabe que é pecadora, mas não tanto assim. Portanto, com a mesma graça de sempre, utilize a Lei para trazer o conhecimento do pecado. Prepare o terreno para o Espírito Santo trabalhar no coração do evangelizado. Só tenha cuidado com uma coisa: é fácil em uma situação como essa parecer superior ou parecer aquela pessoa que nunca pecou na vida. Isso é verdade com qualquer um, mas se torna mais verdade quando estamos falando com um morador de rua. Eu sempre reforço com a pessoa que eu também sou um pecador, que também ofendi a Deus e talvez tenha o ofendido mais ainda, sem entrar em detalhes. Não queremos saber os detalhes dos pecados. Mas nunca deixe de tornar o pecado da pessoa algo pessoal.
Também não deixe de falar sobre o julgamento vindouro. Isso é muito importante. Tanto o morador de rua quanto os que vivem em uma mansão precisam entender que todos, sem exceção, vão se apresentar perante Deus para o julgamento. E Deus é um justo juiz. Não se negue a falar sobre isso.
E quando o coração da pessoa estiver pronto, quando você perceber que a pessoa estiver como Felix perante Paulo (Atos 24:25), apresente a Graça. E deixe claro para essa pessoa que Deus pode salvar até o mais miserável dos pecadores. Ele nos salvou!
Mas aqui tem um perigo. Cuidado com o que você promete. Só existe uma garantia que podemos declarar com 100% de certeza: Deus irá salvar todos aqueles que se achegarem a Ele em arrependimento e fé. Todos os que se achegarem a Ele com o coração contrito pela ação do Espírito Santo. Todos. E Ele vai tornar essas pessoas seus filhos. Qualquer coisa além disso é uma promessa perigosa. Não podemos garantir que essa pessoa vai sair das ruas. É bem possível que isso venha a acontecer. É algo natural, especialmente se essa pessoa se tornar parte de uma igreja. Mas não temos como garantir isso. Não temos como garantir nada além da promessa de salvação.
Mantenha-se focado naquilo que a Bíblia nos garante. Se essa pessoa se converter, ela terá se tornado filha de Deus. E Deus se torna responsável por ela. E tenha certeza que Ele cuida de seus filhos.
Quando esse encontro evangelístico acontece em uma igreja (ei, isso acontece comigo direto) ao final da conversa, direcione essa pessoa para o pastor ou algum diácono para que eles possam dar algum prosseguimento a essa conversa. Algumas igreja possuem algum trabalho social ou encaminhamento que possa de alguma forma ajudar essa pessoa.
Um último lembrete importantíssimo: muitas vezes (mas não todas) moradores de rua entram nas igrejas pequenas para tentar ganhar alguma coisa. É sempre mais fácil em uma igreja pequena porque todos vão vê-lo entrar e a sensação de constrangimento é maior. Em uma igreja grande, alguém assim pode passar despercebido. Não deixe isso distraí-lo. Mesmo que você perceba que essa pessoa está ali porque quer ganhar alguma coisa, compartilhe o evangelho com ela. Ao final, veja se é possível para a igreja ajudar essa pessoa de alguma forma. Não prometa nada. Deixe que algum diácono ou o pastor assuma desse ponto em diante.
Minha conversa com Edmur (ere essa seu nome. Foi difícil de entender) foi bem interessante. Quando o pastor pediu para que eu conversasse com ele, podia-se ver nitidamente que ele estava comovido. Quando sentamos e eu perguntei por que ele tinha entrado na igreja, ele começou a compartilhar algumas coisas. Aos poucos fui apresentando a Lei para ele e em pouco tempo Edmur estava aos prantos. Ele ouviu sobre a Graça salvadora de Deus. E fez algumas perguntas.
No final, ele comeu alguns pedaços de bolo (tinha um aniversário naquela noite) e teve oportunidade de conversar com o pastor ao final. Ele foi encorajado a voltar outras vezes.
Ele foi salvo? Não sei. Não tenho como saber. Mas eu sei que nosso compromisso é compartilhar o evangelho. O trabalho de salvação é exclusivo do Espírito Santo. E podemos compartilhar essa fé de forma efetiva e bíblica, usando a Lei para preparar o caminho. E podemos orar. Por favor, ore por Edmur. Ore para que ele seja salvo. Para que Deus o tire da rua. Para que ele possa ser inserido no corpo de Cristo e venha a crescer em graça e conhecimento perante o Senhor.