Esse post vai doer mais em mim do que qualquer outro que estiver lendo.
Dando uma pequena olhada no blog, é possível perceber que meu esporte preferido é Rugby. Para mim, não existe esporte melhor, tanto para assistir quanto para jogar. Até porque futebol é esporte para mulher...
No nosso Brasil, o Rugby não é muito conhecido e quando falo que gosto desse esporte sempre ouço “é futebol americano”? E aí lá vou eu explicar.
E qual não foi minha alegria quando eu soube que Clint Eastwood estava fazendo um filme sobre os Springboks, a seleção de Rugby da África do Sul (meu segundo time preferido) e sua conquista do título mundial na Copa do Mundo de Rugby (sim, nós temos a nossa copa) em 1995 contra a os All Blacks da Nova Zelândia (meu time preferido), quando a África do Sul estava sobre comando do Nelson Mandela. E o foco do filme, além do Rugby, é mostrar como Mandela usou o Rugby para tentar trazer os brancos mais próximos dos negros.
Esse filme tem tudo o que eu gosto: rugby, All Blaks, rugby. Springboks, rugby, história, rugby, Haka, rugby, direção do Clint Eastwood e rugby. Esse filme estreou nos Estados Unidos em dezembro, bem no dia que estávamos em Miami, mas como era uma viagem de apenas um dia, não podemos ver o filme e eu tive de esperar até o dia 29 de Janeiro para isso.
Muito entusiasmo, muita animação. Mas nem sempre, a história contada é aquela que realmente aconteceu. Isso não é nenhuma novidade, pois todos sabemos que quem conta a história determina quem é o mocinho e quem é o bandido. Portanto, é sempre interessante buscar informações sobre o que realmente aconteceu (quando você se interessa pelo assunto), e principalmente de uma fonte próxima e confiável. E para mim, não existe nenhuma fonte mais próxima e confiável que Peter Hammond, da Frontline Fellowship, um ministério evangelístico da Africa do Sul.
Para você se situar um pouco, o filme começa em 1994, quando Mandela assume a presidência da Africa do Sul depois de anos de apartheid e precisa lidar com o conflito entre negros e brancos. O rugby, e especialmente a seleção nacional, está ameaçada de ser extinta por estar muito ligada aos brancos que governavam até aquele momento. Existe uma pressão do negros de mudar o nome e as cores do time. É aí que Mandela se posiciona e decide que deve usar o time para trazer os brancos, admiradores do esporte, para mais próximo de seu governo e vê na Copa do Mundo que será realizada no ano seguinte na própria Africa do Sul como uma forma de promoção e unificação de seu país.
Hammond diz que esse gesto de Mandela realmente ganhou a admiração do brancos sul-africanos, para quem o rugby é mais do que seu esporte nacional. Mas o filme ignora algumas questões políticas muito importantes nessa tentativa de tornar Mandela alguém maior do que ele realmente é.
Em suas palavras “o filme claramente tem uma agenda política”.
Uma importante observação, e isso eu concordo plenamente, Invictus entrega a Mandela todo o crédito pela vitória dos Springboks na copa do mundo. “Essa deve ser a primeira vez na história que um chefe de estado recebeu o crédito pela conquista esportiva de um time no campo. Por acaso a Rainha Elizabete II recebe o crédito quando o time de rugby da Inglaterra ganha? Por acaso o presidente Bush recebeu crédito pelas conquistas do time olímpico americano em Beijing”?
De acordo com Hammond, o diretor do filme “não deveria ter super-simplificado essa história fascinante separando-a do real contexto de crimes e violência após 30 anos de guerra terrorista levanda pela CNA (Congresso Nacional Africano) de Mandela”.
O filme mostra uma visita a Robben Island, onde Mandela esteve preso por 18 anos (e não 30 como diz o filme. Na verdade, o tempo total de prisão de Mandela foi de 26 anos), mas nunca explica o por que ele foi colocado na prisão.
A impressão que se tem é que ele foi preso por ter se colocado contrário ao apartheid. Mas isso não é verdade. O bispo Desmond Tutu também era vigorosamente contra o apartheid mas nunca foi preso.
Segundo informação de Hammond, nem mesmo a Anistia Internacional quis defender o caso de Mandela porque ele não era considerado um preso político, mas sim responsável por inúmeros crimes violentos e que havia recebido um julgamento e uma sentença justos.
Mandela era o presidente da Umkhonto we Sizwe (MK), o braço terrorista da CNA.
Ele foi considerado culpado por 156 atos de violência incluindo campanhas terroristas, omo a que plantou bombas em lugares públicos, incluindo a estação de trem de Joanesburgo.
Mandela recebeu do presidente sul-africano P. W. Botha, em várias ocasiões, ofertas para ser livre da prisão se ele renunciasse aos seus atos de violência terrorista. Mas ele sempre se recusou a isso.
Uma afirmação interessante de Hammond é que o filme de Eastwood afirma dogmaticamente que os negros precisavam perdoar os brancos. Mas nunca no filme é dito que os brancos também precisavam perdoar as pessoas como Nelsom Mandela e os terroristas do CNA que foram responsáveis pela morte de milhares de sul-africanos. Não houve nenhuma menção das três décadas de violentos atos terroristas, de queima de escolas, das milhares de pessoas inocentes que morreram queimadas vivas com gasolina, carros bombas e outros.
Um outro fato importante é que durante o período que o filme se passa, muitos fazendeiros brancos e suas esposas e suas crianças foram brutalmente torturados e mortos, muitas vezes por membros da Umkhonto we Sizwe que hoje fazem parte da Força de Defesa Nacional Sul-africana.
Apesar de Invictus render toda a glória pela vitória dos Springboks a Nelson Mandela, em nenhum momento o filme relaciona a Mandela a culpa pela ascensão do crime e da deterioração da economia sob o governo de Mandela.
Uma pequena comparação, de acordo com Hammond, durante os 46 anos do governo apartheid, 18 mil pessoas foram mortas, incluindo os crimes, atos terroristas e aqueles mortos pela polícia e pelo exército, em todos os lados, tanto de terroristas quanto de policiais e afins. E isso durante o tempo de guerra, de apartheid. Durante o governo de Mandela, entre 20 a 25 mil pessoas eram mortas por ano.
Um outro fato perturbador de Invictus é o corte total de qualquer referência às fortes convicções cristãs de vários dos membros da seleção de Rugby. Alguns dos integrantes da seleção eram cristãos que acreditavam na Bíblia e se encontravam regularmente para orações antes dos jogos.
O capitão do time, Fracois Pienaar (intrepretado or Matt Damon no filme), em uma entrevista à BBC Sports em 1995, disse que: “quando o apito final tocou, eu caí de joelhos. Eu sou cristão e queria fazer uma oração rápida, por estar fazendo parte de um evento tão importante, não por termos vencido. Então, de repente, todo o time estava em volta de mim, o que foi um momento muito especial”. No filme, esse momento se tornou uma simples oração protocolar “obrigado Senhor, por nos deixar vencer o jogo”.
Os Springbos deram toda a glória por sua vitória aos Senhor Jesus Cristo por este triunfo, mas no filme de Eastwood, essa glória vai para Mandela e para um poema humanista de William Ernest Henley, que diz “Eu agradeço a quaisquer deuses que existam pela minha alma invencível... eu sou o mestre da minha fé; eu sou o capitão da minha alma”. O título do poema, Invictus, dá o nome ao filme.
Peter Hammond termina sua revisão do filme com as seguintes frases:
“Se tudo o que o filme mostra sobre Nelson Mandela ter encorajado o time for verdade, então isso é elogiável. Mas certamente, qualquer vitória no esporte de um time deve ser creditada a seu diretor, técnico e à dedicação, treino e esforço dos membros do time”.

Um filme não tem por si mesmo a obrigação de contar a verdade, é um filme. Uma ficção. Mas existe um perigo terrível que sempre acompanha qualquer ficção e esse perigo é o de influenciar pessoas para pensar de uma forma diferente da realidade, ou dos fatos históricos conhecidos. E é sempre bom ter isso em mente. Seja vendo um filme, seja lendo um livro. Seja na nossa visão de mundo.
Vou terminar por aqui porque está passando França e Itália pelo Rugby Six Nations na televisão e eu quero terminar de ver o passeio da França em cima dos italianos.
Em tempo o site de Peter Hammond é http://www.frontline.org.za