Por algumas vezes temos falado aqui sobre os resultados “maravilhosos” do evangelismo moderno. Temos escrito sobre as multidões que “aceitam” a Jesus e em poucos meses não podem ser encontradas nas igrejas. Sobre a taxa de desviados de mais de 80%. Da apatia espiritual de muitos desses convertidos. Dos muitos que jamais leram as Escrituras. E dos 98% que não fazem evangelismo de forma regular. Mas gostaríamos de falar sobre o pai da criança, digo, do evangelismo moderno, ou jeito de se fazer evangelismo. O grande e pouco estudado, missionário Charles Finney.
Antes de mais nada, só queremos deixar claro que essa não é uma discussão sobre arminianismo ou calvinismo. Mas sim sobre decisionismo, que é um assunto um pouco diferente.
Voltando a Finney, você pode ler uma breve biografia nesse link http://en.wikipedia.org/wiki/Charles_Grandison_Finney.
Finney é considerado um grande evangelista, o precursor das chamadas cruzadas evangelísticas, das quais a maior expressão foi Billy Graham, declaradamente seguidor dos métodos de Finney. Interessante nota que durante uma entrevista foi perguntado a Graham o que ele pensava quando via as pessoas indo à frente, em reposta ao apelo feito: “penso que de cada quatro pessoas que vêem a frente, três vão se desviar”.
Durante grande parte da história do cristianismo, o evangelismo era feito da seguinte forma: pregava-se a Lei, o Juízo e depois a Graça. A Lei era usada para mostrar que somos pecadores. O Juízo para mostrar que vamos prestar contas a um Deus justo. E a graça como caminho de salvação. Via de regra, apresentava-se o evangelho nessa ordem porque assim ele fazia muito mais sentido. As pessoas eram estimuladas a se arrependerem e colocar sua fé em Jesus Cristo. Mas nenhum ritual específico era feito. A pessoa deveria receber a confirmação de sua eleição diretamente do Espirito Santo, através do trabalho de regeneração. Se você for salvo, vai dar frutos. Se você for salvo, Deus vai te confirmar. A igreja primitiva na verdade demorava um pouco para considerar alguém como salvo e parte do corpo de Cristo. Era difícil de entrar e fácil de sair.
Um pouco antes de Finney aparecer em cena, alguns começaram a dizer que o batismo era prova da salvação, era algo que confirmava a pessoa como salva. Mas essa crença foi refutada, pois biblicamente, o batismo é um ato público de fé, mas que em si não salva ou confirma a salvação. É uma declaração, mas não a fonte da salvação.
Com Finney, as coisas mudaram um pouco. Abandonando a antiga teologia do evangelismo, que defendia o Espírito Santo como principal responsável pela salvação do pecador, Finney desenvolve uma nova abordagem, onde o principal responsável pela salvação é o próprio pecador. É ele quem decide se vai ser salvo ou não. Ele é salvo, não porque recebeu a confirmação do Espírito Santo pelo trabalho de regeneração. Ele é salvo porque decidiu ser salvo. É a sua decisão que age como selo confirmatório. E é aí que entra em cena a “oração do pecador”. Está implantado então o decisionismo.
Essa forma de evangelismo se mostrou muito atrativa porque poderia garantir ao pecador sua passagem direta para o céu. Finney começou a usar essa abordagem em seus trabalhos de rua e viu resultados fantásticos. Milhares se lançavam aos braços do Salvador, pois agora podiam contar com algo que dependia somente deles. Até o dia de hoje, a mensagem e o método de Finney são predominantes no evangelismo moderno. “Venha para Jesus, ele vai te dar paz, alegria, felicidade”. “Ele vai resolver seus problemas”. “Somente faça essa oração comigo, convide Jesus para entrar em seu coração, e você automaticamente estará salvo”.
Existem vários problemas com essa abordagem e com essa linguagem, especialmente no tocante às Escrituras. Além de não ser uma abordagem bíblica (podemos ver que não é assim que os primeiros cristãos pregavam o evangelho), a linguagem é estranha às Escrituras, não se encontra nada parecido em relação a uma “oração do pecador” com poderes mágicos de garantia ao pecador e também retira do Espírito Santo um de seus desígnios. Com certeza esse é um assunto que merece um estudo mais apurado, mas isso não é possível no momento. Gostaria de sugerir os textos “O Maior Segredo do Diabo” e “Verdadeira e Falsa Conversão”, de Ray Comfort, pois podem dar uma visão bastante básica daquilo que estamos falando.
O método de Finney ainda é muito usado em nossos dias porque possuiu algo que o torna extremamente atrativo: números. Ele provê um dado estatístico mensurável do sucesso de um ministério. É muito mais emotivo, no sentido em que multidões se convertem. Também é muito mais fácil para se angariar fundos para o sustento da obra, pois as pessoas só querem investir naquilo que dê resultados. “Quantos convertidos você teve no último mês? Não sei, esse é um trabalho do Espírito Santo. Eu posso falar para quantas pessoas eu preguei o evangelho”. Essa frase não é muito efetiva quando se vai angariar fundos. Mas, pelo contrário, quando a resposta para mesma pergunta é “quinhentas pessoas aceitaram Jesus em seu coração”. Numericamente falando, o decisionismo é muito mais atrativo, mesmo não sendo bíblico. Por isso tantos pastores e missionários e evangelistas adotam esse método. Também porque essa é a única forma como a maioria acha que o evangelismo é feito.
Algo que poucos conhecem são os resultados da obra missionária de Finney. Em visitas feitas um ano depois às comunidades que receberam suas campanhas evangelísticas, descobriu-se que das multidões que “aceitavam Jesus”, poucos ainda se encontravam nas igrejas. Muitos deles voltaram para seu estado anterior, totalmente voltados para o pecado e outros ainda pior, confirmando o texto que diz “e seu estado final é pior do que o inicial” (2 Pedro 2:20). Também verificaram que essas pessoas se tornaram mais resistente ao evangelhos, porque, ou não conseguiram a “vida maravilhosa” que pensavam conseguir, ou tinham a garantia de que eram salvos, pois fizeram uma oração uma vez e “aceitaram Jesus em seu coração”.
Podemos ver muito desse quadro nos dias de hoje. As pessoas vão para a igreja, houvem uma mensagem do tipo “venha para Jesus, Ele tem um plano maravilhoso para sua vida”, entendem essa idéia de plano maravilhoso de uma forma bem diferente do que diz a Bíblia (os apóstolos experimentaram essa vida maravilhosa, especialmente em sua morte), nada ouvem sobre pecado, arrependimento, ira vindoura. Mal ouvem sobre a graça, que é desconfigurada porque ela perde o sentido quando não é comparada com a ira de Deus, fazem uma oração como se fosse um encanto tirado de Harry Potter que lhes dá a certeza de serem cristãos e dai por diante fazem parte do “povo de Deus”. Poucos meses depois, quando chega a tribulação, perseguição, tentação, a pessoa percebe que foi enganada e cai fora. Mais um desviado. E muitos dos que ficam, que acabam nunca se convertendo, vivem uma vida reprovável para um cristão. Horas e horas de discipulados são gastas na tentativa de transformar um bode em ovelha. E o máximo que se consegue é uma mudança cosmética, envolta em moralismo.
Precisamos voltar imediatamente para o evangelismo bíblico, que se preocupa menos com os números e mais com a obediência ao Senhor, deixando para que ele inicie a obra na vida da pessoa, pois “aquele que começou a boa obra, vai completa-la” (Filipenses 1:6).
Ultimo e importante lembrete, Finney não acreditava no conceito de pecado original. Ele acreditava que todo ser humano nasce neutro e decide em algum momento de sua vida se vai servir a Deus ou não. Cinqüenta porcento de possibilidades para cada lado”.
Também não acreditava que o sacrifício de Cristo tinha qualquer ação jurídica em nosso favor. Explicando, ele não acreditava que Deus colocou sobre Cristo o castigo que deveria cair sobre nós. Para Finney, a morte de Cristo foi só um exemplo a ser seguido, sem poder redentor. O poder verdadeiro está na decisão de cada pessoa.
Finney escreveu uma Teologia Sistemática que ainda é usada, mesmo sendo considerado um tratado praticamente herege, especialmente no que tange a soteriologia.
Enquanto as pessoas continuarem olhando para os números apresentados pelo método de Finney, elas não vão perceber o mau que estão causando à causa de Cristo.